Em Negação (2016), Deborah Lipstadt (Rachel Weisz), professora judia de Estudos do Holocausto da Universidade de Atlanta, se recusou a debater com David Irving (Timothy Spall), escritor que nega que milhões de judeus foram assassinados pelo regime nazista. Em 1996, depois de ter chamado Irving de “negador do holocausto”, ele o processou por difamação.

    Talvez hoje, 21 anos após o confronto real, não nos cause tanto espanto que verdadeiras tragédias humanas documentadas ao longo da história sejam contestadas ou repudiadas. Isto porque atualmente muito se tem falado em negacionismo no Brasil, por exemplo. Ainda assim, é impressionante que um acontecimento com a dimensão de barbáries e mortes como o Holocausto, tenha sido levado a um julgamento intenso e extenso para provar, mais uma vez, a sua veracidade. Este é o fato principal, mas há outros pontos ao redor do filme que valem a nossa atenção e reflexão.

Filme Negação

    É interessante ver que o versículo sobre estar pronto para explicar a razão da nossa fé (1 Pe 3:15) pertença ao tópico “Sofrendo como seguidores de Cristo”. Muitas vezes, ter que esclarecer a outra pessoa por quê acreditamos em Jesus nos causa sofrimento, seja pela descrença de quem ouve, pelo medo de ser excluído, de perder certo prestígio social, em casos mais extremos, como em alguns países, medo de morrer, entre outros. Ou simplesmente por intransigência, isto é, quando nos recusamos a dialogar com quem pensa diferente.

    No filme, Deborah Lipstadt parece ter a convicção de que a fidelidade de certos assuntos não se discute. Mesmo em nossa era que aceita o termo pós-verdade, de fato, há afirmações absolutas das quais jamais deveríamos duvidar, como a razão da nossa fé em Cristo, mas, ainda assim, somos ensinados a estar prontos a esclarecê-la.


Unidade e Humildade

    Apesar dos sólidos argumentos sobre o Holocausto, Lipstadt não foi sozinha à guerra. Precisou de um grupo de pessoas que lhe dessem suporte através de estudos das estratégias necessárias e que falassem a “língua jurídica”. É certo que explicar o motivo da nossa fé é algo individual, mas certas batalhas pelo conhecimento, aprofundamento e defesa do que cremos não travaremos sozinhos.

    No entanto, questionando algumas vezes e até duramente advogados experientes que estavam cuidando da sua defesa, a professora mostrou que queria fazer do seu jeito. Até ceder ao profissionalismo do time, em algumas cenas, Lipstadt reclamou por aquilo que lhe parecia óbvio. Nem sempre o que nos parece nítido está claro para o outro e às vezes nós precisaremos adaptar a linguagem para sermos compreendidos. “Quando trabalho entre os judeus, vivo como judeu afim de ganhá-los para Cristo.” (I Coríntios 9:20).

    Por fim, ao esclarecermos a razão da nossa esperança devemos fazê-lo com educação (1 Pe 3:16). Confrontos testam a nossa paciência, empatia, consideração, e o que mais for possível e, em uma época de intensa polarização político-ideológica como a que vivemos, para algumas pessoas ou grupos a oposição não merece respeito. Como Cristãos, porém, somos convocados também à pacificação e até a reconciliação.