Muitíssimos pontos brancos em movimento circular que vão incomodar os olhos de algumas pessoas, não por acaso, abrem “A mulher na janela”. Representam a lembrança de Anna Fox (Amy Adams) sobre o acidente na neve que sofreu junto com o marido e a filha. Seu olho azul claro assustado ao despertar do sonho (ou devaneio…), em uma pele nada convencional nos filmes, onde todos estão sempre bonitos, mesmo em uma história triste, retratam de forma mais real o desgaste na idade e na alma de uma mulher atormentada.

    Na trama, Anna é uma psicóloga que trata crianças, mas que no momento está longe do trabalho porque foi diagnosticada com Agorafobia. Como se caracteriza basicamente pelo medo de locais públicos ou de ficar em situação de risco e não ser socorrida, a mulher não consegue sair de casa, e vê o “mundo” pela janela.

    Ao longo do filme, a protagonista acredita ter testemunhado um crime na casa que fica em frente a sua. Supostamente o marido havia esfaqueado a esposa e estaria maltratando o filho adolescente, Ethan (Fred Hechinger). Mas, como ter segurança no testemunho de uma pessoa que está emocionalmente doente e faz uso de um remédio que pode causar alucinações?

a mulher na janela filme

    O Rei Davi, no salmo 51, também sofre por causa de um crime. Cometido por ele. O rei engravidou uma mulher casada e enviou o marido, homem do seu exército, para morrer na batalha. O pecado de Davi estava diante dos seus olhos, “Pois eu conheço bem os meus erros, e o meu pecado está sempre diante de mim” (versículo 3), mas a confissão e o arrependimento são relatados somente depois que Deus usa o profeta Natã para confrontá-lo. Nos 19 versículos, o salmista rasga o coração e coloca para fora a dor da culpa e o desejo de mudança. É justamente neste ponto que os dois protagonistas (Davi e Anna) se assemelham.

    Durante o longa, a psicóloga cria uma relação parte profissional e em parte, talvez, maternal com Ethan, que supostamente sofre com os abusos de um pai cruel. Se o adolescente fingiu com perfeição ou se Anna é que estava fragilizada demais para perceber, deixaremos por conta da sua interpretação, leitor, mas o trágico fim deste contato entre ambos é Ethan se revelando um assassino e trazendo à luz toda a culpa que a mulher sentia. Culpa não confessada. Anna havia traído o marido e, em um desentendimento com o cônjuge, perdeu a direção do carro em que estavam junto com a filha.

  Todos os cômodos do casarão da protagonista estão sempre com pouquíssima iluminação e representam bem o seu estado de espírito. Esse incômodo com a luz é característico quando queremos esconder alguma coisa. Assim como o salmista, que demorou a confessar a Deus a sua culpa e continuou carregando este fardo, Anna se arrastava por todos os cantos com seu pesado delito nas costas.

  É difícil reconhecer os próprios erros principalmente quando trazem sérias consequências para nós e outras pessoas. De fato, certas confissões exigem uma grande dose de coragem. O que esquecemos ou ignoramos, é que não podemos esconder de Deus, que tudo vê, e sustentarmos nosso “crime” com nossas (limitadas) forças. Mas, em 1 João 1:9 somos ensinados que “se confessarmos os nossos pecados a Deus, ele cumprirá a sua promessa e fará o que é correto: ele perdoará os nossos pecados e nos limpará de toda maldade.” O que não temos admitido para Deus?