No que se refere a cinema, talvez seja uma descoberta recente para os que estão acostumados apenas com as produções Hollywoodianas, mas os espanhóis sabem mesmo criar um bom mistério. O “Guardião invisível” (2007) talvez não tenha o melhor dos roteiros, mas o suspense que criou tem seu mérito. A fotografia também ajuda a construir a atmosfera de morbidez e tormento, tanto pelo assassino em série à solta, quanto pelas lembranças da infância que perturbam constantemente Amaia (Marta Etura), que, aliás, carrega em sua atuação uma expressão de sofrimento que condiz com o drama da protagonista.

    “O Guardião invisível” se refere a Basajaun, personagem da mitologia Vasca, uma espécie de guardião ou senhor da floresta. É lá, na floresta da cidade de Elizondo, onde aparece o primeiro corpo exibido na trama. Para quem ama um bom suspense sobrenatural, personagens mitológicos ou folclóricos trazem uma boa tensão, mas, apesar disto, Basajaun acaba não sendo o ponto principal da história, mas tragédias familiares de Amaia.

    Na primeira recordação da infância de Amaia, a mãe parece uma mulher extremamente rígida e nada afetuosa principalmente com ela, a filha mais nova. A família é dona de uma confeitaria na cidade de Elizondo, a mesma cidade onde ocorre o crime que abre o filme e que Amaia, como inspetora de polícia, é encarregada de investigar. Até então, parece apenas uma mulher que se sente deslocada na própria casa e que não quis seguir com o negócio da família. Mas o filme foi desvelando pouco a pouco a gravidade do relacionamento da protagonista com a mãe, uma mulher perversa, que teve coragem de espancar a própria filha e enterrá-la em um grande depósito de farinha da confeitaria.

    Em Gênenis 4 lemos sobre o primeiro assassinato. Com inveja, Caim matou o próprio irmão Abel. Ainda no mesmo livro, no capítulo 37, os irmãos de José o jogam dentro de um poço e o vendem como escravo aos Ismaelitas, fazendo Jacó, o pai deles, acreditar que havia sido atacado por um animal feroz. Em 2 Samuel 13, Tamar foi violentada pelo irmão, Amnnom, ambos filhos do rei Davi. Aliás, a família do mais famoso salmista é marcada por várias tragédias entre os seus membros. Nos choca pensar, especificamente no caso de Davi, considerado um homem segundo o coração de Deus, que no lugar onde mais deveria haver segurança coisas tão graves aconteçam.

    Entre a Primeira e Segunda Guerra mundial e depois da Guerra fria, nos Estados Unidos, as propagandas do American way of life (estilo de vida americano) ostentavam uma família sempre feliz, farta em comida e em tecnologia da época. Mas sabemos que na vida real não é bem assim. No Brasil, por exemplo, mais de 11 mulheres criam seus filhos sozinhas. De acordo com dados divulgados pela Unicef, entre 1996 e 2017, 191 mil crianças e adolescentes, entre 10 e 19 anos, foram assassinadas no Brasil. Muitos filhos de lares disfuncionais. Filhos do abandono, do descaso. Há muito mais a relatar, mas vamos nos deter somente a estas estatísticas.

“Orai sem cessar” (Inclusive por nossos parentes)

    Alguns de nós foram e são vítimas na própria casa ou família e sabemos que nem toda mudança depende exclusivamente da nossa ação. Deus não está alheio às injustiças, e isto inclui os dramas familiares. Ele mesmo disse que ainda que nossa mãe se esquecesse de nós, Ele jamais faria o mesmo (Isaías 49:15). Muitas vezes, tudo o que nos caberá fazer é orar, e é tão séria esta responsabilidade que em 1 Timóteo 5, versículo 8, somos advertidos que “Aquele que não cuida dos seus próprios, e especialmente de sua própria família, negou a fé e é pior do que um descrente.”

    Como filhos de um Eterno Pai amoro, somos capacitados também a perdoar, sobreviver e até testemunhar do nosso amadurecimento diante das intrigas familiares. Às vezes sofremos, em outras fazemos sofrer, pois o lugar mais difícil de praticar a nossa fé é dentro de casa, onde somos tão intimamente conhecidos, mas o Cristo que redime a história da humanidade, também nos liberta de nossas dores pessoais.