As reflexões presentes na HQ Moby Dick são para o alto mar e para a terra firme
Mas vamos meditar sobre a Vingança
Há quase 200 anos, no século 19, Hermam Melville escrevia Moby Dick. Baseado no impressionante relato real de uma baleia que afundou um navio e deixou 20 homens à deriva. Como se as emoções desse acontecimento não fossem suficientes, durante os três meses que ficaram no mar em busca de terra firme e segura, alguns comeram os próprios companheiros para sobreviver. Parece mesmo história de filme – e acabou inspirando pelo menos um, “No coração do mar” (2015).
Mas, em Moby Dick, o que no início parece a aventura de um jovem rapaz que quer embarcar no navio Pequod para saber como é pescar baleias e ver o mundo, na verdade se mostra (e aqui me desculpe os spoilers) a caçada furiosa e insana do capitão Ahab à Moby Dick: o cachalote branco que lhe arrancou uma perna.
Destacamos a vingança do Capitão Ahab porque guia toda a narrativa, mas sem qualquer intenção de reduzir a obra de Melville ao tema escolhido. Neste percurso do Pequod, o autor retrata os perigos a que esses homens se lançavam e a solidão da vida no mar, por exemplo, mas muito mais poderia ser aproveitado dessa história.
“Estas farpas foram temperadas por sangue e raios!! E juro temperá-las uma terceira vez naquele lugar exato sob a barbatana, onde fervilha a vida daquela maldita criatura!!”
Na época da trama, século 19, o óleo extraído das baleias era utilizado, entre outros fins, na iluminação pública e nas máquinas industriais, então, muitas caças tinham esse propósito. Mas Ahab transformou o trabalho em uma vingança pessoal. Podemos entender que ao buscar vingança perdermos o foco do que devemos fazer, da nossa missão. Esta é uma primeira lição.
Na história, o Capitão alimenta o seu ódio todos os dias e, é compreensível, até certo ponto, a tristeza, indignação ou sentimentos semelhantes quando fomos atingidos de alguma forma, mas, “se vocês ficarem com raiva, não deixem que isso faça com que pequem e não fiquem o dia inteiro com raiva.” (Efésios 4:26). Eis uma segunda lição.
Ele intimida e coloca em risco a vida dos marinheiros em nome de sua caçada inflexível. E daqui já podemos extrair uma terceira lição: A vontade de fazer o outro pagar pelo dano que nos causou (e às vezes “supostamente” nos causou, porque nem sempre temos uma visão correta do que aconteceu) respinga em outros.
A bíblia nos alerta, em Hebreus 12:15: “Cuidado, para que ninguém se torne como uma planta amarga que cresce e prejudica muita gente com o seu veneno.” É comum que, magoados, o apoio de outras pessoas não nos pareça suficiente. Queremos que nossos ofensores sejam pelo menos excluídos por quem nos ouve.
Outro erro com o qual podemos aprender é o senso de justiça do Capitão, pois perseguir Moby Dick para matá-la pela perna que perdeu foi o que considerou certo. Se quando não fomos ofendidos nossa ideia do que é justo pode estar bem equivocada, imagine ao visualizarmos a situação cheios de raiva… “Todos nós nos tornamos impuros, todas as nossas boas ações são como trapos sujos.” (Isaías 64:6)
Durante toda a viagem, Ahab teve um conselheiro sensato, Starbuck, que tentou várias vezes trazer o seu juízo de volta, mas sem sucesso. A missão suicida acabou com o Pequod virado pela fúria, mas dessa vez de Moby Dick, e um único sobrevivente, Ishmael, o jovem do início da história. Que o Espírito Santo nos lembre do quanto fomos perdoados por Deus, do dever de perdoar o próximo e de que a vingança não nos pertence.