Entrevista Com Ariadna Almeida

Alithia Ecin

 

Meu nome é Ariadna Almeida, tenho 26 anos e sou uma leitora voraz. Tenho uma
quantidade maior de dinheiro gasto com livros, do que de livros lidos, já que infelizmente
não consigo ler todos ao mesmo tempo. Também danço desde os 3 anos de idade. Já
passei por alguns teatros e festivais, também algumas igrejas.

Quando ou como surgiu a ideia de desenvolver a obra?
Eu fazia pequenas histórias em quadrinhos desde que era criança, nada muito elaborado
(nem muito inteligente). Apesar disso, eu nunca tinha criado nenhum personagem de
maneira intencional, com uma história e uma personalidade. Eu resolvi fazer um desafio de
30 dias pra melhorar a minha arte e um dos desafios era criar um personagem. Foi aí que a
Alithia nasceu e em seguida, o Leander. Eles foram mudando e se desenvolvendo com o
passar dos anos. A história e o universo foram criados pra acomodar os dois e não o
contrário. Ainda assim, demorou um tempo pra eu perceber que valeria a pena
compartilhá-los com outras pessoas. Chega uma hora que temos que perceber que se
formos esperar o momento e as habilidades certas para fazer algo, é possível que esse
momento nunca chegue.

• Quais são os maiores desafios?
Quando se é independente, você precisa fazer todas as etapas sozinho e o trabalho não é
pouco. Entretanto eu diria que esse desafio é também uma benção pois você tem a
liberdade de apresentar a sua obra exatamente da maneira como idealizou. Só precisa
haver um cuidado para que o perfeccionismo e apego emocional com a obra não se torne
um obstáculo. Confesso que essa é uma área que ainda preciso trabalhar pois sou um
pouco chata em relação a deixar outros artistas me ajudarem. Uma das razões é que eu
não tenho facilidade em verbalizar o que eu imagino, sou péssima para dar explicações
mesmo que elas estejam bem claras na minha mente.

• Quais são os elementos essenciais que você acha que toda boa história em
quadrinhos deve ter?
Bons personagens. Que pareçam reais, como se você pudesse tropeçar com eles na rua,
ainda que eles sejam pessoas com super poderes ou criaturas mágicas. O seu universo
pode ser super legal, mas se não tiver bons personagens pra levá-lo pra frente, o seu
quadrinho sempre será lembrado como algo que tinha potencial mas não chegou lá. Nós
costumamos pensar muito na arte, e embora isso seja extremamente importante, já vi
muitos quadrinhos com artes medianas se tornarem extremamente populares por ter uma
boa história e personagens bem construídos. Como foi no caso de Tower of God, os leitores
escolheram apostar no quadrinho e esperar pra ver a evolução da arte, porque a história e
os personagens valiam a pena.

• Quais as principais inspirações e referências?
Acho que qualquer pessoa que olhe pra minha arte consegue perceber a imensa influência
que o trabalho do Hayao Miazaki tem sobre ela. Com a comic não poderia ser diferente, não
apenas visualmente mas também na maneira de contar histórias. Porém eu diria que os
livros de fantasia e romance de ficção cristã são referências ainda maiores pra mim. Autores
como C.S Lewis (As Crônicas de Nárnia), J.R.R Tolkien (Senhor dos Anéis), John Bunyan
(O Peregrino) e George Macdonald (Phantastes). Também autores nacionais como Gabrielli
Casseta (O Monstro Dançante), Thaís Ferreira (O Sétimo Continente), Rebeca E. Souza (A
Lâmina Mais Cortante) e Maina Matos (Amor Real).

• Como se chamam os personagens?
Alithia Ecin (22 anos) e Leander Bertio (25 anos) são os nossos proteganistas. Eleonor
Seirin (21 anos) e Kenai Emerim (23 anos) são a segunda parte da nossa “família
encontrada”.

• Quais ferramentas e técnicas você utiliza para ilustrar?
Eu sou a maior advogada da filosofia de que “devemos fazer o melhor com aquilo que
temos acesso”, então por muito tempo usei o Krita (que é um programa gratuito) pra
desenhar. Os primeiros sketches e primeiras tentativas de levar uma história em quadrinhos
pra frente foram feitos lá. Apesar de ainda usar uma mesa digitalizadora simples, hoje em
dia aderi ao Clip Studio Paint, que tem inúmeras funções que ajudam especialmente quem
quer fazer quadrinhos.
Geralmente, pra uma line mais dinâmica, eu faço rascunhos bastante limpos e uso eles
como a própria line. Na hora de pintar, já que sou muito fã de 2D, acabo fazendo cel
shading com bastante frequência. E também uso muita textura porque eu não consigo ficar
sem.

• Conte um pouquinho sobre a obra.
Onde Moram as Estrelas é uma romantasia aconchegante sobre uma moça cega de
nascença que tem o dom de ver as cores da alma e um joalheiro incapaz de distinguir as
intenções de outras pessoas. Segundo a Bíblia Sagrada a alma é onde é formada nossa
personalidade. Ela tem os nossos sentimentos, vontades e raciocínio. É ela quem influencia
as nossas ações. Ser capaz de lê-la é uma habilidade valiosa, principalmente para Leander,
que não consegue mais entender o comportamento humano por causa de uma punição que
recebeu do Grande Rei, aquele que governa Aster. Já para Alithia, ser capaz de conhecer o
mundo parece um sonho inalcançável, então ela não pensa duas vezes em aceitar a
proposta de Leander. Eles concordam em ser parceiros de trabalho, viajando por Aster e
atendendo clientes ricos e excêntricos. Esse acordo só durará até que cada um consiga
atingir seus próprios objetivos. Eles só não sabem que isso vai levá-los além das nuvens.
Eu fiz questão de que todos os lugares por onde os personagens passam fossem inspirados
em diferentes lugares do meu estado, Espírito Santo (meu pequeno país). Elísia, por
exemplo, é a ilha em que Alithia nasceu e cresceu e muito dela é inspirado em Vitória, a
nossa capital, que também é uma ilha. É importante que nós escrevamos sobre aquilo que
conhecemos e por mais irônico que pareça, a realidade é uma ótima base para a fantasia.

• Já tem ideia de quando será o lançamento?
Pretendo lançar ainda esse ano, mas quando trabalhamos com outras coisas e temos
outras responsabilidades, ter tempo disponível para o desenho e para a escrita pode ser
difícil e isso pode culminar em atrasos.

• Onde as pessoas poderão ler?
Por enquanto a ideia é disponibilizar nas plataformas Webtoon e Tapas. Porém também
tenho vontade de ter um site dedicado só a OMAE.

• A quanto tempo você vem idealizando?
Tenho esses personagens desde a minha adolescência contudo foi a partir de 2022 que
OMAE começou a caminhar com as próprias pernas e ganhar uma identidade. Desde então
venho de um processo de muitas tentativas e erros, por essa ser a minha primeira obra.
Muitas mudanças foram feitas durante essa jornada e nesse meio tempo Deus me levou a
entender muitas coisas sobre os meus personagens mas também sobre mim.
Não vejo a hora de poder finalmente mostrar no que venho trabalhando ao longo desses
últimos dois anos.