(Romanos 3: 23)
Alguém disse que “O bem sempre vence no final”, então, podemos pensar que este é o consolo dos bons. Mas, às vezes, a quantidade de atrocidades praticadas no mundo nos coloca em dúvida se os maus são realmente minoria.
O mal retratado nos filmes e descrito na literatura traz sempre graves consequências, e é talvez por elas que medimos a nocividade de um caráter. Uma mentira, por exemplo, muitas vezes só é tratada como algo ruim se prejudicou alguém. De fato, a sociedade (e aqui vamos pensar especificamente o ocidente) costuma mensurar o tamanho dos erros: “pecadinho e pecadão“, e isso se reflete também em nossa arte, como no cinema e na literatura. A questão é que Deus não enxerga assim e sem dúvida tem a ótica correta sobre tudo o que existe no universo, já que o formou. Então, no fundo, o que nos diferencia dos maus?
Em Legado nos ossos (2019), a maldade não só é representada de maneira assustadora, mas com um toque de crueldade a mais: é a mãe (Suzi Sánchez) da protagonista, Amaia Salazar (Marta Etura) até o momento, a maior vilã em seu caminho.
Na trama, algumas igrejas de Elizondo, cidade espanhola onde nasceu Amaia, sofreram vandalismo, e a Inspetora Salazar e sua equipe são chamados para investigar. Mas há um elemento a mais que é no mínimo curioso: ossos de braço de recém-nascidos foram deixados nas instituições.
Como este fato se conecta a sua mãe é explicado ao longo do filme, mas o ponto central da nossa reflexão é a distinção comum que se faz entre maus e bons. Amaia é uma mãe dedicada, apesar da crueldade com que foi criada pela sua e tornou-se uma pessoa que trabalha pela justiça. São qualidades como estas e a convicção da incapacidade de cometer um delito, por exemplo, que costumam caracterizar uma pessoa boa, ou um “cidadão de bem”.
O apóstolo Paulo inicia este capítulo falando do privilégio dos judeus, que é o fato de Deus ter lhes confiado sua mensagem (vers 1). Mas, apesar disto, judeus ou não-judeus, todos pecaram contra o Senhor. Adiante, no capítulo 5, Paulo também nos lembra que através de Adão o pecado entrou no mundo (vers 12).
A falta de consciência sobre o próprio estado diante de Deus impede o ser humano de se arrepender dos seus pecados, e aqui voltamos para algo que foi dito mais acima. Nossa bondade costuma ser medida pelas boas ações que praticamos, sem levar em consideração as motivações do coração. E mesmo que fossem levadas, pelo que a narrativa bíblica nos ensina, esta disposição para fazer o bem não é natural do homem.
C. S. Lewis disse, em Cristianismo Puro e simples que “Um mundo de pessoas boas, satisfeitas com sua própria bondade, que não olham para além disso e dão as costas para Deus estaria tão desesperadamente precisando de salvação quanto um mundo miserável – e poderia até ser um mundo mais difícil de salvar.” Faz sentido, não é? Afinal, por que pessoas “boas” precisariam da reconciliação com Deus através de Cristo?
Sim, devemos, sempre que possível, obedecer às leis do nosso país, cuidar da nossa cidade, exercer nossa cidadania. O personagem de Amaia chama a atenção não só pela mãe que tem, mas principalmente pela pessoa que se torna apesar dela. Mas lembremos que se temos virtudes, “foi Deus quem nos fez o que somos agora; em nossa união com Cristo Jesus, ele nos criou para que fizéssemos as boas obras que ele já havia preparado para nós” (Efésios 2:10).