Augustine Lofthouse (George Clooney) era um famoso cientista que se dedicava a verificar a possibilidade da continuidade da raça humana em outro planeta. Isso, porque acreditava na extinção da terra. Sacrificou relacionamentos e prazeres comuns da nossa existência enquanto se dedicava totalmente a glamourosa trajetória profissional.

Enquanto estava isolado e trabalhando no Observatório do Círculo Polar Ártico, uma equipe da NASA navegava no espaço em busca de um lugar seguro chamado K-23, apontado por Augustine, há muitos anos. Em um clima amistoso dentro da nave, os cinco tripulantes seguiam tranquilamente enquanto Lofthouse tentava entrar em contato com alguém.

A expectativa de qual será o destino de Augustine e da tripulação espacial parece perder força diante das várias lembranças de alguns destes personagens. Memórias de momentos com entes queridos durante a vida na terra acabam conquistando maior relevância que a própria missão de cada um.

As histórias futurísticas sempre parecem trazer um extremo ou outro. Na tentativa de imaginar o porvir com a presença de uma tecnologia que avança cada vez mais, ou o mundo será como nos Jatsons ou estaremos todos perdidos. Apesar disso, O Céu da Meia-Noite é muito mais sobre a jornada pessoal de cada um do que sobre o desfecho da humanidade.

O livro de Eclesiastes, que às vezes parece pessimista ou desiludido, traz certas reflexões realistas sobre a vida. O sábio e autor fez de tudo um pouco: aproveitou a vida e trabalhou arduamente, mas sua sensação de “correr atrás do vento” atravessa todo o livro.

Augustine fez um trabalho extraordinário de descobertas espaciais e no fim das contas estava certo sobre a possibilidade de um futuro em K-23, no entanto, só se dá conta da vida boa e ordinária que deixou passar quando estava completamente solitário.

Ter uma vocação profissional e através dela realizar-se e ajudar outras pessoas é, sem dúvidas, algo muito bom. O próprio autor de Eclesiastes conta que realizou grandes coisas, que se sentiu feliz com o seu trabalho e que essa era a sua recompensa (Ecl 2:10). No entanto, constata também que o esforço enorme para construir as coisas e o fato de que tudo ficará aqui, nesta vida, lhe parece inútil.

Colocarmos todas as áreas da nossa vida a disposição de Deus é também o glorificar com nossa profissão. É saber andar em equilíbrio. Sim, conquistar grandes coisas se esse é o curso natural da nossa trajetória, sem renunciar ao relacionamento com as outras pessoas e aproveitar o que temos direito com o fruto do nosso trabalho.

Durante todo o filme, desbravar o espaço oferece riscos e por isso alguma ação, mas o que mais demanda é paciência. Enquanto esperam, lembram constantemente de fragmentos comuns de suas vidas na terra ao lado de entes queridos e, assim como Sánchez (Demián Bichir), pensam sobre o modo como passaram o tempo.

Que ao final de tudo não guardemos dolorosos arrependimentos como Augustine por “correr atrás do vento”, por dedicar-se aos afazeres mais do que o necessário. Que Ele nos ensine a usarmos bem o nosso pouco tempo.