O segundo mandamento mais importante (Mateus 22:39)
Você já ouviu a expressão “amor sacrificial”? Se acreditamos na descrição bíblica do amor, aquela frase parece mesmo uma redundância, afinal, amar requer sacrifícios. Mas a nossa modernidade líquida, conceito que nos ensinou o sociólogo Zygmunt Bauman, revela relacionamentos rápidos, frágeis. Curioso é que, mesmo a nossa cultura da busca incessante pelo prazer individual acima de tudo, ainda se comove com histórias de pessoas que se sacrificam por amor.
O Labirinto do fauno não só soube combinar simultaneamente duas realidades completamente distintas, como nos surpreende com uma grande lição. Se a história de Ofélia estivesse limitada a ser princesa de um reino distante, guiada até seu verdadeiro pai através de um ser mitológico, já seria suficiente para nos satisfazer como espectadores, mas a renúncia dos próprios direitos como realeza para salvar o irmão nos espanta e constrange.

Em Mateus 22 vemos Jesus mais uma vez sendo provocado pelos Fariseus, que tentavam, mas sempre em vão, deixá-lo sem resposta. É impressionante como homens que tanto estudavam e conheciam a Lei nada pareciam entender sobre o amor e tudo o que ele traz consigo, como compaixão, por exemplo.
A partir do versículo 37 deste capítulo, depois que um fariseu especialista na Lei lhe pergunta qual é o maior mandamento, Jesus responde que é amar a Deus sobre todas as coisas. Por este já esperávamos e conseguimos aceitar com certa naturalidade. Não que seja uma opção não aceitar o que a Palavra de Deus nos diz, mas entendemos que certas ordenanças e ensinamentos são difíceis de digerir. Pensar que amar o próximo como a nós mesmos é um dos mandamentos do qual dependem toda a Lei que os profetas anunciaram é uma destas duras ordens.
Em O labirinto do fauno, por amor a mãe, mesmo com medo, Ofélia aceita o padrasto cruel e se arrisca pela saúde da mulher. A heroína, talvez a mais jovem de Guillermo Del Toro, é corajosa em toda a trama, zelando pelo bem de quem ama. No entanto, Jesus questiona se esperamos alguma recompensa de Deus por amarmos somente a quem nos corresponde, pois isso já fazem até os que desconhecem o Pai (Mateus 5:46).
Ofélia não teve a mesma compaixão pelo capitão Vidal e sabemos que não é fácil amar quem prejudica a nós e/ou aos nossos, mas o desafio do segundo mandamento é justamente este: apesar de. Mesmo com suas falhas, a menina nos ensina sobre o amor, principalmente quando renuncia a toda a glória que tinha direito para salvar o irmão que acabara de nascer. Sem dúvida uma personagem admirável por grandes qualidades, como a maturidade que demonstra mesmo tão jovem.
Jesus, no entanto, é o nosso exemplo supremo de sacrifício por amor. Um dos trechos mais claros sobre a grandeza da Redenção está nos versículos 7 e 8 do capítulo 5 de Romanos: “Dificilmente alguém aceitaria morrer por uma pessoa que obedece às leis. Pode ser que alguém tenha coragem para morrer por uma pessoa boa. Mas Deus mostrou o quanto nos ama: Cristo morreu por nós quando ainda vivíamos no pecado.”